Este espaço é destinado às construções em Biologia e Educação dos estudantes de Ciências Biológicas da UFSC

segunda-feira, 16 de maio de 2011

ANÁLISE DE UM VÍDEO DE UMA PROPAGANDA DA BOMBRIL





Na campanha Mulheres Evoluídas da Bombril foi divulgado um vídeo onde a atriz Dani Calabresa promove a venda de produtos de limpeza. A atriz interpreta uma mulher que dá conselhos ao público feminino para exigirem de seus maridos ajuda nas tarefas da casa, sendo que seu argumento central se resume a que a marca evoluiu junto com as mulheres. A propaganda parece pregar a igualdade entre os sexos, entretanto podemos destacar aspectos sexistas e machistas.
Num primeiro momento podemos observar que a atriz representa uma mulher evoluída e está caracterizada com vestimenta masculina. Isto nos leva a questionar os conceitos machistas do conteúdo, afinal, porque a mulher para ser considerada evoluída deve ser masculinizada? É notável que a sociedade esta tomada de preconceitos. Outro fator interessante, que também nos leva à conclusão de um aspecto machista na propaganda, está no fato da mesma ser direcionada unicamente para as mulheres. Se a proposta do comercial fosse realmente uma igualdade entre os sexos, o público alvo deveria ser qualquer ser humano que o assistisse, uma vez que a igualdade dos gêneros implica que as tarefas da casa são responsabilidade de homens e mulheres, assim como a política, economia e diversas outras incumbências dos cidadãos do mundo ocidental. Outro fator de destaque está no sexismo explícito do comercial, o qual vai totalmente contra o feminismo, promovendo uma “guerra” entre os sexos e não a busca pela igualdade frente à sociedade. A atriz interpreta uma personagem inspirada no personagem Capitão Nascimento do filme “Tropa de elite”, o qual apresenta características como o autoritarismo, o abuso de poder e a submissão do mais fraco, atitudes muitas vezes admiradas pelo sexo masculino em uma sociedade machista. Além de salientar a violência entre os sexos, esta característica da propaganda termina por dar à mulher um tom de linguagem "masculina", para assim buscar a aprovação do homem ou até para colocá-la no mesmo status que o homem e ele ouví-la.
Dada tal perspectiva, e pensando que apesar das injustiças sofridas pelas mulheres no final somos todos seres humanos, será que existe algum fator biológico que justifique uma inferiorização social da mulher? Simone de Beavoaur, escritora francesa do séc. passado e ativista feminista, dizia que não nascemos mulher e sim nos tornamos mulher. Realmente, a partir do momento em que é anunciado o sexo do bebê, inicia-se a transmissão de costumes seculares, com imposições de comportamento e tradições. No sentido estritamente biológico, as diferenças entre homens e mulheres mais marcantes ocorrem com a interação entre genes e hormônios, os quais determinam suas características físicas, comportamentais e também atuam no funcionamento de orgãos fundamentais. No sexo masculino determina músculos mais desenvolvidos, pelos mais abundantes, voz mais grossa, etc... Já no sexo feminino, ocorre desenvolvimento dos seios, voz aguda e artérias cardíacas mais protegidas, entre outros. Enfim, podemos inferir que a maior diferença entre homens e mulheres está em que a última pode gestar um descendente, tendo seu corpo adaptado para isso. A partir disso, entendemos que as diferenças biológicas entre os sexos existem sim, porém não seriam suficientes para determinar o status dos mesmos na sociedade, a diferença está imposta na organização social e nos costumes arraigados.
Numa definição de feminismo do projeto "Renasce Brasil", é divulgado um conceito de “movimento social que defende igualdade de direitos e status entre homens e mulheres em todos os campos”. Ou seja, apesar das diferenças biológicas, devemos entender que os sujeitos na sociedade devem ser vistos como iguais, sem descriminação nem violência de nenhuma das partes. É indispensável repensar toda a “indústria da mulher”, pensar criticamente sobre propagandas onde produtos são destinados à mulher, independentemente da função dos mesmos. Repensar também a questão da mulher como grande alimentadora do consumismo, talvez por ser o alvo da maioria das campanhas publicitárias e também por sofrer uma enorme pressão social em relação à imagem e vestimenta, a mulher está mais suscetível ao consumo exagerado estimulado pela economia atual. A partir do exposto na análise, acreditamos que a base da mudança está em redefinir fatores “normais” do dia a dia, principalmente os que fortalecem a definição da mulher como dona de casa, objeto sexual, fútil, e tantas outras características sexistas que vemos todos os dias nos meios de comunicação. 


Myrna F. Hornke e Ângela Demétrio

4 comentários:

  1. Amanda Formehl e Cláudia Aguiar25 de maio de 2011 às 07:08

    Interessante essa analise. Aborda um assunto muito discutido desde décadas passadas. As mulheres não eram reconhecidas como pessoas da sociedade, coisa que ainda hoje vimos porem não como antigamente. Tivemos uma palestra no dia 24 de maio com uma bióloga que abriu uma empresa, ela nos confidenciou que quando chega um cliente ao invés de pedir o produto a ela, pede a um homem. Outra confidencia foi que ao ir a um bar com seu namorado, atual marido, pediram uma cerveja e um suco de laranja, entregaram a cerveja ao namorado e o suco a ela, sendo que quem tinha pedido a cerveja era ela. “Feminismo é o movimento social que defende igualdade de direitos e status entre homens e mulheres em todos os campos” (fonte: http://www.renascebrasil.com.br/f_feminismo2.htm), vemos na propaganda que tratam os homens como pessoas cruéis que só entendem uma linguagem: a da agressividade; colocando assim que as mulheres para poderem ser tratadas e vistas como os homens na sociedade, também tem que serem agressivas. Outro aspecto que observamos foi que ao terminar a “intimação” ela se refere ao controle da televisão, assim concernindo que o homem seria o comandante da casa, o “manda-chuva”, o dono de tudo até do controle remoto.

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  2. Thayla, Nadja e Tamyris Costa3 de junho de 2011 às 18:30

    Realmente o movimento feminista tem tomado conta de grandes discussões há décadas, querendo promover essa igualdade entre os gêneros numa sociedade até então completamente machista.
    A propaganda é totalmente voltada às mulheres e passa principalmente a visão de que - como desde o início dos tempos de sociedade organizada, os homens trabalhavam e garantiam o sustendo da família enquanto a as mulheres se restringiam totalmente ao lar e aos filhos, abrindo mão inclusive da educação - a mulher, em seu papel de "dona de casa" comanda, ou pelo menos deveria comandar,tudo o que acontece dentro do lar, inclusive impor que o marido ajude nas tarefas de limpeza e afins.

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  3. Ezequiel Rodrigues e Tayrine weber3 de junho de 2011 às 20:10

    É interessante como os idealizadores do comercial usaram do artifício do Filme ''Tropa de Elite'' para chamar atenção dos telespectadores, usar uma linguagem que homens machistas usariam para prender sua atenção ao significado oculto da mensagem, de que os homens devem ajudar as mulheres nos afazeres domésticos, deixando em evidência os produtos de limpeza em exposição e chamando atenção para o final do comercial onde ela diz ''entendeu fofinho'' deixando claro que apesar de existirem homens machistas as mulheres sempre conseguem o que querem.

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  4. Caríssimos, o segundo parágrafo de vocês lindo!! Com 2 exceções: terem escrito “cidadões”, ao invés de “cidadãos” (perdoem se for a tal reforma ortográfica, mas eu ainda sou old school) e dizer que a cultura popular está tomada de preconceitos... todas as culturas estão tomadas de preconceitos... todos nós nos apegamos àquilo que acreditamos e temos muita dificuldade em largar nossas ideias. Posto isso, dizer que apenas o popular tem preconceito, é um baita preconceito! E vamos, que vamos: o terceiro parágrafo de vocês caiu de paraquedas. Eu não entendi muito bem o que ele faz ali, de onde veio, pra que serve. Falar das diferenças no desenvolvimento homem e mulher não resolve muito o assunto (ou não resolveu porque vocês não articularam, não ligaram uma coisa à outra). Se forem manter, sugiro que expliquem melhor a função dele ali. Porque, como está, fica complicado.
    Se quiserem dizer das diferenças físicas e hormonais entre homens e mulheres para explicar suas diferenças, é um caminho a ser seguido, mas isso deve ficar explícito e trazer relações com o texto. A sacada genial do 2º parágrafo é exatamente que, mesmo parecendo uma propaganda que promove a igualdade entre os sexos, ela é direcionada à mulher! Porque a ela, sempre foi atribuído o papel de limpeza, de cuidado da casa. A mulher tem que ir “pedir” ao homem que a ajude na limpeza e, ainda, falando na “língua dele”. Aí se denuncia uma distância enorme entre homens e mulheres, inclusive de linguagem, através da sátira, da gozação. Mas, mesmo assim, o esforço morre na praia, pois o público almejado é, ainda o feminino: a atriz chama as mulheres. Ou seja, o comercial constroi uma ideia de homem e mulher: a mulher cuida da casa, o homem assiste à TV e domina o controle remoto. Mesmo que a ideia da protagonista seja romper com isso, ela não é concretizada...
    Os exemplos da Amanda e da Cláudia são ótimos e, especialmente sua definição de feminismo: vejam que não é igualdade entre homens e mulheres, mas sim igualdade de direitos e status, apesar das diferenças (biológicas) entre homens e mulheres... e isso, ainda estamos longe de conseguir. Isso está tão forte ainda em nossa sociedade que os anúncios de produtos de limpeza, eletrodomésticos, coisas da casa, estão sempre voltados às mulheres! Vejam os comentários da Nadja, Tamyris e Thayla e lembrem das propagandas do dia das mães e do quanto, todo dia, somos mandadas para a cozinha, para a limpeza, para o cuidado da casa, dos filhos: seja através de presentes, de filmes, de propagandas, de retratos do feminino que buscam nos fazer sermos quem somos: a mulher está quase sempre submetida ao homem, seja como mulher-samambaia (ver análise de imagens sobre estética e consumo aqui no blog), seja como dona-de-casa. E, quando ela decide “tomar o poder”, é sob a forma de piada...
    O Ezequiel e a Tayrine também trouxeram uma memória usada na propaganda: a do filme tropa de elite. Memória com a qual muitos homens (e mulheres que morrem de amores pelo capitão Nascimento, personagem do filme) se identificam: a do poder, do autoritarismo, de submeter o outro. Outro toque é o destaque aos produtos de limpeza, que são, afinal, o que se pretende vender como produto de consumo, além, é claro das imagens de homem e mulher.
    Sugiro que incorporem estes comentários ao texto. Ótima escolha de artefato de análise, pena que deixou um pouco a desejar na relação que tentaram estabelecer com a biologia...

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