Palmito Juçara
A América do Sul possui uma das maiores diversidades de palmeiras do mundo. O palmito juçara Euterpe edulis Martius é umas das palmeiras mais belas de toda a flora brasileira. Sua distribuição original ocorre do sul da Bahia até Misiones na Argentina. Também há registros da juçara em brejos próximo ao Distrito Federal.
O palmito é uma iguaria fina, valiosa e de grande aceitação no mercado, tanto no Brasil como no exterior. Corresponde ao produto comestível, extraído da extremidade superior do tronco de certas palmeiras, constituindo-se de folhas jovens, internas, ainda em desenvolvimento, envolvidas pela bainha das folhas mais velhas.
Explorado intensamente a partir da década de 70, o palmito juçara encontra-se hoje sob o risco de extinção. Apesar da retirada sem a realização e a aprovação de um plano de manejo sustentado ser proibida por lei, a exploração predatória tem avançado no país e quase todo o palmito juçara comercializado e exportado pelo Brasil atualmente é ilegal.
Originalmente o palmito era extraído da palmeira Juçara (Euterpe edulis), que possui palmito de altíssima qualidade, mas um ciclo de produção longo; tendo uma exploração predominantemente extrativista, encontra-se por isso em vias de extinção.
O palmito leva mais de 7 anos para crescer até o tamanho de corte. Devido a super-exploração ilegal, juçaras muito pequenas já estão sendo cortadas (são os palmitos picados que você vê na pizza de palmito!), impedindo a regeneração natural das florestas.
Praticamente todo palmito, com exceção da pupunha Bactris gasipaes H. B. K., que chega na sua mesa vêm da extração na natureza. A exploração do palmito na Floresta Atlântica não é sustentável.
Os palmiteiros são contratados em regiões pobres, como as cidades do Vale do Ribeira, sul de São Paulo, região de Guaraqueçaba e litoral paranaense e deixados próximos as Florestas Nativas. À noite os palmiteiros entram na mata, cortam e carregam feixes de até 50 palmitos. Cada feixe representa uma árvore morta. Um palmiteiro pode cortar até 200 palmeiras por dia!
Após o corte, os palmitos são levados aos acampamentos e cozinhados em condições pouco higiênicas. Então, os palmitos são envazados e transportados para fábricas clandestinas onde recebe um vidro e rótulo falsificados. Após chegar nas fábricas, são lavados e colocados em frascos limpos. Outra possibilidade é do transporte do palmito in natura dos feixes que vão diretamente para os restaurantes self service das grandes cidades. Cada palmeira produz somente um único palmito de menos de 30 cm de comprimento. Algumas marcas possuem nome "ecológicos" para iludir o consumidor. Importância do palmito juçara:
- A maioria do palmito juçara encontrado nos supermercados, restaurantes vêm de corte ilegal. Esse corte ilegal é feito geralmente dentro das Unidades de Conservação (Parques Estaduais, Nacionais, Estações Ecológicas). Os palmitos são cortados dentro da mata e cozidos na hora sob péssimas condições de higiene.
- Várias espécies de aves e mamíferos dependem dos frutos do palmito para sobreviver. Sabemos que arapongas, sabiás-unas, tucanos, jacutingas, catetos, queixadas, veados, esquilos, cutias, antas, e outros animais da floresta consomem os frutos e dispersam as sementes do juçara pela mata. Sem a juçara várias espécies de animais podem desaparecer. Em alguns locais onde o palmito foi dizimado já podemos notar a ausência da fauna.
- Palmito não possui nenhuma vitamina, ou qualquer outra fonte alimentar imprescindível ao homem.
- Atualmente existe uma guerra entre os palmiteiros e os guardas-parques em todo o Brasil. Os palmiteiros estão fortemente armados e mobilizados para extrair todo palmito possível da Floresta Atlântica. Alguns guardas já foram mortos. O corte do palmito está se tornando tão organizado quanto o tráfico de drogas. Sabemos hoje que os palmiteiros possuem rádios, armas e transporte mais eficientes que os guardas. Além de cortar os palmitos, muitos animais são abatidos pelos palmiteiros.
Muitos palmiteiros entraram nessa atividade devido ao colapso das atividades do chá e banana. Atualmente existe um grande debate entre ecologistas, sócio ambientalistas e ecólogos sobre a importância de produtos renováveis advindos da floresta.
Para uma maior conscientização e preservação desta espécie sugere-se algumas considerações, como mostrar ao público o impacto do corte do palmito na Floresta Atlântica e seus riscos a saúde, quando preparado e consumido sem condições básicas de higiene (botulismo); elaboração e divulgação de campanhas de educação ambiental; criar um sistema de fiscalização efetivo nas Unidades de Conservação da Floresta Atlântica; incentivar planos de manejo do palmito em áreas particulares; fornecer alternativas de renda para a população tradicional e do entorno das Unidades de Conservação.
Da redação do Ambiente Brasil - www.ambientebrasil.com.br
ANÁLISE:
A polêmica do palmito juçara
Como proposta educativa da disciplina de Tópicos em Biologia e Educação do Curso de Graduação em Ciências Biológicas – UFSC, o presente texto é uma análise de um artigo publicado no site www.ambientebrasil.com.br. O artigo trata do Euterpe edulis Mart. (palmito juçara) que se encontra ameaçado de extinção devido ao extrativismo. Este artigo vem contra a exploração desta palmeira que sempre foi uma das principais fontes de renda das comunidades nativas da Mata Atlântica. Esta análise foi pensada com base em pesquisa de campo feita desde a década de 80 na APA (Área de Proteção Ambiental) de Guaraqueçaba no Paraná. Tal pesquisa tem sido feita por um dos autores da análise (Sidney), que é nativo da região e tem acompanhado o modo de vida dos moradores locais, as ações governamentais de desenvolvimento (ou falta deste), assim como a repressão aos atos considerados ilícitos.
Ao observar o texto em questão, verifica-se a presença de diversos termos mais técnicos, como manejo sustentável, exploração predatória, unidades de conservação, e dispersão de sementes. Isso parece sugerir que o texto é dirigido ao leitor já engajado em discursos ecológicos ou ambientais. Além disso, o texto tem um caráter conservacionista, sendo este aparentemente ligado aos primeiros movimentos ecológicos que têm origem nas ciências. O texto nos induz a considerar, entre outras coisas, que áreas no mundo devam ter a menor influência dos seres humanos possível, onde somente “poucos iluminados” (biólogos, ecólogos, engenheiros florestais) poderiam ter acesso às áreas escolhidas como de conservação. Entretanto, o discurso sócio-ambiental pode ser aqui mencionado, tendo em vista que é possível a valorização da participação das comunidades das reservas nos processos de educação, manejo e conservação do ambiente.
Como se pode notar, o terceiro parágrafo faz menção ao “palmito juçara encontrar-se sob o risco de extinção”. O que de fato acontece é que, em alguns lugares, ele já se encontra extinto. Vale mencionar também que, em outras localidades, a palmeira é considerada uma praga, pois onde há muito palmito há dificuldade de outras culturas, ou seja, onde se instala um palmital outras plantas se desenvolvem com dificuldade.
No sexto parágrafo, lê-se que “a exploração do palmito na Floresta Atlântica não é sustentável”. Embora o artigo não mencione os motivos da impossibilidade de sustentabilidade, parece haver em verdade meios da exploração de palmito ser sustentável. O cultivo do palmito de forma homogênea já é uma realidade em alguns locais do país, onde se faz o plantio de forma inteligente, na tentativa de evitar o corte degradante e prejudicial ao ambiente. Vale ressaltar que a polpa do Euterpe oleracea Mart. (açaí) - a palmeira amazônica do mesmo gênero do juçara - é explorada há muito tempo no norte do país, fazendo parte da cultura do povo da Amazônia.
No que diz respeito aos grupos que exploram o palmito, sabe-se inclusive que não se tratam somente de “palmiteiros contratados”, como exposto no sétimo parágrafo. Incluídos nesses grupos estão trabalhadores rurais que complementam a renda no corte do palmito. É fato que a ilegalidade cerca todo o processo de exploração do palmito, porém nem todo palmiteiro deve ser tratado como bandido, uma vez que muitos nativos encontram no palmito sua única fonte possível de renda. Entretanto, embora estejamos tratando de comunidades dependentes desta prática, esta não justifica a continuidade deste tipo de manejo. Uma alternativa, contudo, seria buscar meios sustentáveis a partir de política sócio-ambiental, a fim de prevenir a extinção da espécie em questão, sem desfavorecer as famílias locais.
Não menos importante é o modo como o texto aborda o acondicionamento do palmito abatido. No oitavo parágrafo, o texto afirma que “o palmito é cozido no acampamento e depois vai para uma fábrica clandestina onde recebe o vidro e rótulo”. Em muitos casos o palmito é de fato cozido diretamente no vidro e de forma extremamente precária. Ainda, nota-se no texto uma baixa ênfase dada aos problemas que tais condições de preparo podem trazer à saúde humana. Embora haja menção ao botulismo como forma de apelo à saúde, nada é esclarecido a respeito. Sabe-se que a falta de higiene no preparo das conservas é favorável a proliferação da bactéria Clostridium botulinum, que por sua vez produz uma toxina altamente prejudicial ao sistema nervoso humano.
Vale enfatizar a importância da preservação do palmito juçara, assim como das demais espécies. Dentre outros fatores, sabe-se que o fruto do palmiteiro serve de alimento para diversas espécies da Mata Atlântica. O uso sustentável do E. edulis é fundamental para manter as interações ecológicas na Mata Atlântica. Para isso, é necessário que as autoridades desenvolvam projetos de manejo desta importante planta para os animais e para os homens. Faz-se necessária também uma maior conscientização das pessoas que consomem o produto. Além de evitar o consumo desse produto que não é imprescindível ao ser humano, sempre que consumido deve-se estar atento à sua procedência. Por fim, e sob outra perspectiva, a preservação das espécies pode ser considerada, inclusive, tendo em mente um respeito ao próprio direito de convivência das espécies, ou seja, o direito de existirem na Terra pelo seu próprio valor intrínseco que é a vida.
Bárbara Treyse Cardoso da Silva
Darlan da Silva Bazilio
Sidney José Maria de Freitas
(Cláudia Patrícia, Yuri, Thalita): O texto deixa bem claro o risco de extinção do palmito juçara, sendo bastante interessante a análise na parte em que citam o problema social com relação ao extrativismo por parte dos palmiteiros. Porém,embora estejamos tratando de comunidades pobres,onde talvez o palmito seja o único meio de sustento local, isto não deve servir como meio de justificativa para a continuidade deste tipo de manejo. Devem-se buscar meios sustentáveis a partir de política sócio-ambiental, para impedir a extinção da espécie em questão, sem desfavorecer as famílias locais, até porque se é o único meio de vida destas, caso o recurso esgotasse,teriam que substituir de qualquer forma o tipo de cultivo. Existem meios alternativos como a extração da polpa do palmito (Segundo os engenheiros agrônomos, a extração da polpa permite a melhor germinação da semente e, quando beneficiada e congelada, pode render até R$ 10,00 por litro), além de como sugere o texto, o cultivo e extração da pupunha.
ResponderExcluirPor fim, outra questão imprescindível, são programas de educação ambiental e cultivo sustentável que podem ser oferecidos a estas famílias que dependem do extrativismo de espécies em extinção, além de garantia de segurança aos grupos de apoio ao meio ambiente que trabalham no local e são vítima da violência especificada no texto (o que faz rever a importância de intervenção de autoridades governamentais para tentar se chegar a um acordo com os palmiteiros).
A análise de vocês está ótima e enriquece ainda mais o texto que escolheram para trabalhar. Acho importante que vocês citem de onde tiraram os dados da análise que complementam os dados do texto. Além disso, eu enfatizaria alguns pontos da forma, do modo como o texto se apresenta, além dos dados em si. Vamos lá: o texto não é dirigido para a divulgação em geral, mas para pessoas já engajadas nos discursos ecológicos ou ambientais. Exemplo disso é a presença de diversos termos um pouco mais técnicos, usados com certa naturalidade ao longo do texto, como manejo sustentável, exploração predatória, unidades de conservação, dispersão de sementes. É um texto jornalístico crítico, construído sempre na terceira pessoa (como se não houvesse autor), o que dá uma impressão de credibilidade e de imparcialidade. Este modo de escrita é também utilizado na escrita de artigos científicos, onde fala “a voz da ciência”, como se tratasse ali da verdade e não de uma versão, uma visão, como a do jornalista que escreveu o artigo. Que visão seria essa? Trata-se de um texto conservacionista, ligado aos primeiros movimentos ecológicos que têm origem nas ciências, que defendem, entre outras coisas, que selecionemos áreas no mundo que se constituam intocadas, ou pouco tocadas pelos seres humanos. Vejam que esta é uma ideia sobre meio-ambiente, que defende que “poucos iluminados” (biólogos, ecólogos, engenheiros florestais) possam ter acesso às áreas escolhidas como de conservação. Há outros discursos, como os sócio-ambientais, que valorizam a participação das comunidades das reservas nos processos de educação, manejo e conservação do ambiente (um dos maiores exemplos disso é o projeto TAMAR no Brasil). A meu ver, estes outros discursos estão pouco presentes no texto. Ao enfatizar a necessidade de maior fiscalização e alternativa de renda para as populações da área, os autores parecem assumir esta postura de não incluir estas pessoas nos processos de preservação sugeridos. Como vocês muito bem enfatizaram, ao comparar os palmiteiros com traficantes de drogas, colocam as imagens que fazemos destas pessoas próximas ao medo e à negação, provocando de antemão reações de incômodo, de indignação com os palmiteiros e não com todo um processo social que culmina no palmito em nossa mesa! Ou seja, é provocado pelo nosso consumo, pelo descaso dos governos com estas populações, com a ausência de políticas públicas que incluam estas populações em seus projetos. O texto apela também para o pânico em relação à nossa saúde, explorando o medo de pegarmos doenças ao consumirmos tais alimentos. E, também para a sensibilização, ao mencionar os animais que vão ficando sem comida devido à extração desenfreada. Não há, além disso, nenhuma ideia que associe o palmito à vida, ao fato de estarmos falando de um ser vivo, ou seja, àqueles movimentos que defendem os direitos das espécies conviverem, existirem na Terra pelo seu valor intrínseco: o de serem vida. O palmito é sempre visto como recurso... sobre estas últimas 3 frases, sugiro que assistam ao filme O ponto de Mutação que traz as ideias do Fritjof Capra, um cara muito legal que tem ideias holísticas sobre a natureza e o ser humano. Ele pode ser visto aqui: http://video.google.com/videoplay?docid=854094769667634943#
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