Este espaço é destinado às construções em Biologia e Educação dos estudantes de Ciências Biológicas da UFSC

terça-feira, 10 de maio de 2011

ANÁLISE DE UMA IMAGEM DE UMA PROPAGANDA PUBLICITÁRIA SOBRE HOMOSSEXUALIDADE

Humanitarismo ou Apenas Mais um Golpe de Marketing?



"A orientação sexual não é uma escolha."


Ao nos depararmos com textos, folders e imagens que lidam com o tema homossexualidade, nos vemos diante de clichês e ideias batidas sobre o assunto. Com a Grife NO-LI-TA não foi diferente. Contudo ao trazer em sua campanha o tema “A Orientação Sexual não é uma Escolha”, seu grande diferencial foi a forma de abordagem.
Utilizando a mídia fotográfica para passar, de maneira surpreendente, a mensagem sobre o tema, a Grife expõe um bebê recém nascido – símbolo de pureza, fragilidade e inocência -, com uma pulseira de identificação utilizada em maternidades para que não se percam ou se troquem os bebês. Essas pulseiras trazem os nomes dos recém-nascidos que são escolhas dos pais. Contudo na propaganda, ao invés do nome do bebê tem-se escrito “Homossexual”, o que leva a pensar que a homossexualidade é uma escolha, uma escolha de alguém e não necessariamente do bebê, o qual nem pode se pronunciar sobre o assunto. Mostrar às mães e aos pais a possibilidade desses terem filhos homossexuais é outro impacto que a utilização dessa pulseirinha pode causar.
Uma visão mais histórica encontra-se apagada neste texto de publicidade. Atualmente em nossa sociedade, uma referência mais comum de "normalidade" seria o indivíduo heterossexual e, por isso, ninguém se pergunta o motivo de ser hétero. Contudo numa outra sociedade, como na Grécia Antiga, ser homossexual fazia parte do contexto de normalidade. A ideia de orientação sexual não era concebida como identificador social entre os antigos gregos, e o comportamento homossexual ocorria normalmente entre indivíduos do sexo masculino, pouco se sabe sobre a homossexualidade entre as mulheres – até porque essas não eram vistas como cidadãs. Além do gênero dos indivíduos, é importante lembrar que essas relações aconteciam entre um moço jovem e um homem mais velho que assumia o papel de ativo, o que nos leva a pensar que na Grécia Antiga, o que chamamos de pedofilia, atualmente, também era comum. E nessa sociedade, não se pensava se a homossexualidade era escolha ou não, pois não havia motivos para isso - era "normal".
Junto a isso, a propaganda foi lançada na Toscana, Itália, em frente a uma população predominantemente Católica. “Sede Fecundos (Crescei), Mutiplicai-vos” (Bíblia, Gênesis, Capítulo 1, Versículo 22).  O Catolicismo e outros Grupos Religiosos condenam que o ato sexual ocorra sem o sentido de procriação. Segundo estas orientações não se deve fazer sexo por prazer, para satisfazer as nossas “tentações mundanas”. Pensando dessa forma, o sexo só pode acontecer entre indivíduos de sexos diferentes, pois indivíduos de mesmo sexo não poderiam procriar entre si (ainda!). Conclusão: a homossexualidade é, segundo estes preceitos que regram a vida de vasta população mundial, condenável e não se encaixa nos padrões de normalidade citados anteriormente. Nesse sentido, a propaganda trabalha para mostrar aos religiosos e demais que não deveria existir um padrão de normalidade quando à sexualidade.
A Grife quis se apresentar a favor da causa daqueles que defendem a homossexualidade como algo natural ou genético e de mostrar à população que a convivência com homossexuais deve ocorrer de forma igualitária. Porém serão esses os únicos objetivos? Segundo Everardo Rocha (2005), anúncios são vendidos indistintamente, assim um dos objetivos de uma empresa, quando vende um produto, é vender a imagem da empresa. E inflamar discussões que vão de encontro a um tema conservador é uma excelente forma de voltar os olhos à Grife NO-LI-TA.

Fontes:
Site Wikipédia – Artigo “Homossexualidade na Grécia Antiga”: http://pt.wikipedia.org/wiki/Homossexualidade_na_Gr%C3%A9cia_Antiga (Acesso em 27 de junho de 2011)
Site “Italia Oggi” – http://www.italiaoggi.com.br/not10_1207/ital_not20071028c.htm (Acesso em abril de 2011)
ROCHA, Everardo. Animais e Pessoas: as categorias de natureza e cultura nos anúncios publicitários. Alceu: Revista do Departamento de Comunicação da PUC-Rio, Rio de Janeiro, v.6, n.11, p.19-40, jul./dez., 2005. Semestral.
BÍBLIA Sagrada: Tradução da CNBB. 6. ed. Brasília: CNBB, --. 1563 p.


João Francisco Souza
Maria Paula de Azambuja de Ávila
Vitor de Amorin Gomes Rocho

5 comentários:

  1. O grupo fez uma análise muito feliz da imagem apresentada. Realmente, o tema é polêmico e deve ter seu fundo de "marketing", o que nos leva a pensar qual era a real intenção da grife, mas mesmo assim, não se pode negar a originalidade da campanha.
    A imagem, interpretada a nossos olhos, nos trazia a mensagem que o homossexualismo é algo natural, não tem gênero, credo, cor, ou classe social especifico. Não é uma doença, nem formado pelo meio e relações sociais que os cercam.
    O uso de um bebê também está associado a varios significados: pureza e inocencia, herança genética e a própria identificação natural que as pessoas tem com nenéns, o que, talvez, atênuaria um possivel 'choque' com a força da mensagem passada na campanha.

    Anna Luiza, Karine e Felipe.

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  2. Ezequiel Rodrigues e Tayrine weber3 de junho de 2011 às 20:37

    A imagem quer chamar atenção daquelas pessoas que julgam ser uma ''opção'' a homosexualidade, é a foto de uma criança recém nascido que ainda não dispõe de opinião formada ainda, bem como capacidades físico /motoras. Homosexualidade não é uma opção, afinal não vemos por aí pessoas se perguntando ''porque sou hetero?'' Acreditamos que não tenha um fim lucrativo ou marketeiro na imagem,ate porque a grife NO-LI-TA é conhecida por suas campanhas publicitárias polêmicas, apenas quer propor o ser ''tachado'' por homossexual preconceito existente na nossa sociedade.

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  3. Eu tenho uma interpretação um pouco diferente do que vocês propuseram para a campanha, que vai mais na onda do que colocam o Ezequiel e a Tayrine: a pulseirinha, usada nas maternidades para ninguém “perder” o bebê, traz uma identificação, o nome das crianças. Este nome, normalmente, é uma escolha dos pais. A meu ver a identificação com o nome “homossexual”, simboliza uma escolha, como se a homossexualidade fosse mesmo, uma escolha das pessoas. Isso está muito relacionado com as ideias de vários grupos religiosos, que tendem a enfatizar que o sexo é sempre uma escolha (devemos fazer sexo apenas pra procriar, senão é pecado; assim sendo, usar camisinha, ou outros tipos de controle de natalidade é pecado. Sexo que não seja pra procriação é pecado, logo, sexo com pessoas do mesmo sexo é pecado. E nós podemos resistir às tentações da carne: é só rezar, andar com boas companhias e se controlar). Estes discursos religiosos tendem a regrar as nossas vidas, no sentido de determinar o que é bom ou mau para quem deseja fazer parte dos grupos, compartilhar destas crenças. Ao mesmo tempo, muitas destas regras parecem engessar nossos desejos, transformá-los em coisas erradas e mais: culpar a nossa falta de resistência às 'tentações”. A história da humanidade é quase apagada, como se, em diversas culturas, em diferentes épocas, não fosse completamente normal ser homossexual. E, nestas culturas, nestas épócas, simplesmente não era necessário sequer pensar se ser homossexual é “uma escolha minha”, ou “genético”, ou “socialmente determinado”. Como muito bem destacaram Tayrine e Ezequiel, hoje em dia ninguém fica por aí se perguntando por que é hetero. Porque ser hétero, é o padrão atualmente instituído como “o normal”. Como aquele padrão citado no texto sobre sexualidade da Elenita Pinheiro que discutiremos nessa segunda-feira: homem, branco, magro e heterossexual. Este padrão também é trazido pelas ciências, em suas representações. Vejam os modelos usados em livros didáticos, nas pesquisas médicas, etc. Faz pouco tempo que isso está mudando...

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  4. continuação: Sobre a questão do marketing, sim, a campanha é endereçada: ela visa às pessoas que acham os preconceitos em relação à homossexualidade uma m...! Ela visa a atenção. Sua imagem defende a homossexualidade como algo que deve ser natural, e não uma escolha – que poderia ou não ser feita. Ela usa essa afirmativa para chamar seu público, para chamar atenção. A imagem do bebê também funciona nesse sentido, como lembraram Anna Luiza, Karine e Felipe: o bebê atenua possíveis sentidos de choque, ou indignação. Ele é visto como algo puro, puro, porque ainda não terminou sua formação, especialmente sua moral, sua ética, seu desenvolvimento emocional. É possível também, a partir desta imagem, pensarmos que a homossexualidade é algo geneticamente determinado, já que “não é uma escolha”... enfim, acho que tem bastante coisa para vocês pensarem e incluírem aí. Recomendo também a leitura do texto que falei anteriormente e a inserção de algumas ideias dele aqui nas análises.

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  5. excelente abordagem, também fazemos assim onde trabalho, na agencia de marketing digital sp amei demais o post que fez, muito dedicado, parabéns pelo conteudo tão útil mesmo

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