Em muitas cosmovisões indígenas, a vida é vista como uma dança cósmica que flutua sobre o sopro divino da nossa Mãe, e que está em harmonia com o ar, o rio, as plantas, as bactérias, com os animais, todos os seres vivos naturais e sobrenaturais estão dançando essa sublime coreografia em harmonia e cooperação. Como pode algo tão lindo e significativo ser reduzido a uma vida de preparação para o mundo do trabalho e acumulação de pedaços de papeis coloridos? Essa visão reducionista ocidental, que busca dar uma utilidade para nossa existência, vem sendo imposta a muitas outras culturas desde séculos atrás no Brasil, de forma que fica difícil nos percebermos inseridos nesse contexto que se nutriu historicamente pela escravidão e genocídio de pessoas africanas e indígenas.
Vários dos trabalhos finais de estudantes de Tópicos em Biologia e Educação, durante o semestre de 2020/2, buscaram descolonizar essa visão presente na nossa política, economia, biologia, enfim, nas formas como nos relacionamos com a vida na Terra.
Desde a época do início da colonização, a escravidão gerava (gera) enormes fortunas que solidificaram as bases do capitalismo. Para atender a esses interesses econômicos, foi necessário criar "racionalizações" como desculpa para a diáspora africana e os genocídios africano e indígena: a ciência construiu movimentos como a eugenia e o darwinismo social, fornecendo subsídios para hierarquização e destruição de pessoas e de seus conhecimentos. As influências dessas "racionalizações" permanecem até hoje e são problematizadas pelo trabalho "O conhecimento indígena também é científico" das alunas Maria Eduarda e Maria Luiza e dos alunos Édivin João e Julio Ernesto, que busca explorar e valorizar o conhecimento indígena, com uma série de colagens e pensamentos dos/as autores/as:
No trabalho elaborado por Luiza Braulina Conceição, Lenita Cabral dos Anjos e João Rafael Zapelini Guião Coelho podemos observar como temos essa tendência em classificar tudo que se considerou ser "descoberto" e pode ter alguma utilidade, principalmente econômica, que nos remete também à rede de pesca utilizada na imagem capturando a biodiversidade.
Já as alunas Lauren Bonfanti Fontoura, Ana Júlia dos Santos e Robert Lauro Nunes Kroon criaram uma capa de CD cujo álbum seria "Antropocentrismo Enraizado". Acho que todo mundo gostaria de ouvir esse CD né? Mas a gente pode ter um pedacinho dele, já que a Lauren, a Julia e o Robert prepararam um vídeo de introdução ao CD, uma mensagem ao futuro, a partir de um presente pandêmico... ele está logo abaixo:
Seguindo nessa mesma linha, os/as alunos/as Débora Malu Marquato, Henrique Webber Andriolo e Okesanna Eduarda Puhale elaboraram uma colagem que nos traz a reflexão sobre a relação entre algumas doenças e como elas se dão pelo contato e relação que se tem com a natureza, como a covid19.
A aluna Rafaela Marcondes aborda também essa nossa relação com a natureza ao questionar alguns teste científicos como de alergenicidade, citotoxidade, fototoxidade e mutagenecidade que, apesar de serem cruelmente realizados em animais vivos (não-humanos), já estão dessensibilizados pelas pessoas que se utilizam de tais produtos no cotidiano.
Os/as alunos/as aluna Júlia Montegutti, Altamir Rubio Junior, Guilherme Khoury e Bruna Alexandre convidam nossa consciência para o show de horrores que temos vivido, imersos no e pelo egoísmo humano. O evento, denominado “Em busca do fim do mundo”, busca satirizar a situação político-administrativa do nosso país, principalmente em relação à liberação de agrotóxicos (em 2 anos de mandato, a atual gestão presidencial já liberou 967 agrotóxicos) e desmatamento das matas nativas. Acho que vamos precisar de estômago para esse espetáculo, bora?
Um grande problema relacionado ao uso desses agrotóxicos é a contaminação de bacias aquíferas, rios, lagos, e outras variedades de ambientes aquáticos sujeitos à destruição capitalista. Não obstante em nos podar e dar uma utilidade em nossa vida, o capital ainda tira o que há de mais fundamental em nossa constituição material, onde surgiu a vida no planeta e o que ninguém consegue ficar sem, por mais de uma semana: a água. Dessa maneira, as/os alunas/os Giovana Garrido, João Pedro Cechinel, Luisa Peres e Sarah Knoll construíram um podcast chamado "Consegue me ouvir?", no qual temos um relato em primeira pessoa da Água. Se a Água falasse a língua humana, o que ela nos diria? O que ela acha da ciência? Acompanhe o podcast, clicando na imagem abaixo:
Podemos nos questionar sobre como essa degradação ambiental, que se dá muito pelas mãos das grandes indústrias, pecuária e agricultura extensivas de nosso território é colocada nos ombros da população de classe baixa ou média baixa: nas usuais campanhas para não se demorar em banhos, deixar a luz acesa, lavar a calçada, entre outros... o trabalho dos alunos Gustavo Griebner, Henrique Pereira e Otávio Aguiar questiona essa responsabilidade:
É válido e interessante que nós economizemos água, mas mais importante que isso, num país como o nosso (onde 27 milhões vivem abaixo da linha de pobreza e 35 milhões não tem acesso à água potável), é importante ter água chegando na sua casa para poder economizar...
Para encerrar nossas discussões, decidi deixar por último o trabalho da Georgia Silva Gondim, João Pedro Almeida Araújo, Mélani Zmorzynski e Nadine dos Santos Böel, para nos questionarmos: ecologia para quem? O que é nossa casa? Seria esse pequeno quadrado de concreto que vivemos isolados de tudo, inclusive nós mesmo? Se a ciência é tão evoluída e o conhecimento tradicional primitivo e ultrapassado, como pode a ciência causar tanta destruição ao nosso lar, enquanto muitas das populações indígenas são a última fronteira de resistência dos territórios? Veja o vídeo elaborado pelos/as alunos/as abaixo:
Referência base:
MILANEZ, Felipe. Fundamentos de ecologia. Salvador: UFBA, Faculdade de Direito; Superintendência de Educação a Distância, 2020. 64 p. ISBN 9786556310039 (Broch.).
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