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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Análise de uma reportagem sobre o fim dos oceanos



Análise do texto: “O Fim dos Oceanos” disponível em: http://super.abril.com.br/ecologia/fim-oceanos-447919.shtml

Primeiro, a capa: o peixe feito de lixo, tenta representar o fim da vida marinha e que o único ser vivo que vamos encontrar vai ser feito de lixo. E ainda o “x” no olho, representa morte, dando assim uma prévia do que o leitor irá ver no conteúdo da revista; e o título sendo polêmico “o fim dos oceanos”, um tanto quanto sensacionalista. Das 3 frases abaixo da capa, posso identificar que a terceira “E os especialistas alertam: o futuro dos mares é sombrio” é muito vaga e de novo, sensacionalista, quem seriam esses especialistas e seriam eles dignos de confiança? O texto está relacionado à biologia por usar vários termos da mesma, biodiversidade, cadeia alimentar e relações intra específicas são assuntos do texto, além de citações e a biodegradação do lixo por bactérias.

“[...] É que os animais marinhos usam a audição para quase tudo – para encontrar o lugar de procriação, o parceiro sexual, a comida. E o mar virou uma linha cruzada dos diabos. Cientistas concluíram que a baleia-azul está ficando surda – escuta a distâncias até 90% menores do que antes. Já a orca está precisando gritar – produzir cantos mais longos para se fazer ouvir. Outras baleias aparecem mortas nas praias após testes militares com sonares caça-submarinos – seus 235 decibéis causam hemorragia nos ouvidos e nos olhos dos animais.”

Esse trecho faz a abertura do texto, e só ele é o suficiente para afetar o leitor e talvez influenciá-lo a tomar uma posição a favor dos oceanos e da natureza e fazer o resto da leitura do texto analisando como um ativista do Greenpeace, o que é a intenção do autor (que claramente é contra todo tipo de interferência no ecossistema marinho). Dá para perceber que a intenção do autor é trazer o leitor para o seu lado, por que ele apenas cita essa parte revoltante, e depois muda o contexto.

“E leva para o Japão, país que captura 25% dos atuns-azuis dos oceanos. No maior mercadão de peixes do planeta, o Tsukiji, em Tóquio, um desses peixes é leiloado por até US$ 25 mil. Os que são pescados pequenos ficam enjaulados em fazendas de engorda nas costas de países como Espanha, Itália e Turquia. Passam meses sendo alimentados com peixes gordurosos e depois são abatidos a tiros – isso mesmo, a tiros. Então seguem seu caminho rumo ao desaparecimento e às mesas dos aficionados por sushis.”

Bom, basicamente o quê o texto tenta explanar é a denúncia da pesca predatória. Mas em nenhum momento o texto diz ao leitor que a dieta de muitas famílias no Japão é o peixe, que apesar de ser um ser vivo e que precisa ser preservado, há uma necessidade primária humana envolvendo todo esse quesito de pesca, claro que há também os pesqueiros que praticam a pesca predatória apenas para lucrar e não para abastecer o mercado alimentício.

“Essas projeções são parte dos estudos estatísticos de uma década de Boris Worm, professor de conservação marinha da Universidade de Dalhousie, no Canadá. Junto com outros cientistas, ele estimou que, das populações de grandes peixes que nadavam em nossos mares em 1900, podem ter sobrado só 10%.”

Dessa maneira de tratar a informação “que foi citada por cientistas” o texto passa a impressão ao leitor desavisado de que isso é uma verdade absoluta por se tratar de ciência, mas nós sabemos que na história, a ciência na verdade não é imutável e infalível. O que também pode ser visto neste trecho: “segundo Daniel Pauly, cientista da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá. Depois de estudar as estatísticas de pesca entre 1950 e 1994, Pauly publicou um artigo-bomba em que afirma: “Estamos comendo hoje o que nossos avós usavam como isca”. Ele previu que, nesse ritmo, acabaríamos almoçando águas-vivas e jantando plâncton.”
E também apela para nosso paladar, quem gosta de comer água-viva? Realmente este tipo de linguagem usada no texto tenta chocar ao leitor, mas se o texto presume que o leitor come alimentos marinhos também, como o texto pode criticar tanto a mesma pesca que é usada para preencher o cardápio do brasileiro? então o que quero dizer é que o autor critica a pesca, mesmo dizendo que o próprio leitor usufrui dela. O autor está livre de qualquer culpa? Isto pode ser visto em outro trecho do texto:
“Se desgraça pouca é bobagem, o que podemos esperar de impactos no dia-a-dia? No mínimo, uma mudança de dieta. Você já comeu água-viva? Bem, talvez daqui a 50 anos você se acostume com a idéia.”

“A segunda informação supreendente é que a Grande Barreira de Corais australiana – aquela pirotecnia de cores e peixes e tartarugas-marinhas que é a única estrutura viva do planeta que pode ser vista do espaço – está ficando branca. Ou melhor, pálida. E não só ela mas todos os recifes de corais da Terra. De novo, a culpa é dos mares quentes. Eles fazem os corais sofrer, se contrair e começar a sufocar as algas que vivem em simbiose dentro deles – dando a sua cor e seu alimento. As algas então liberam toxinas para forçar o coral a expulsá-las. Então eles ficam brancos e doentes. Se a temperatura continua quente e há outros desequilíbrios ao redor, os corais morrem.”
Aqui eu vejo outro tipo de afirmação que pode ou não ser verdade, e que afeta muitos leitores, ao dizer que a culpa é dos mares quentes, o autor se apóia em quê?! Seria o autor um renomado biólogo ou especialista na área?

A solução proposta pelo texto:
“As fazendas marinhas Uma solução encontrada para amenizar o declínio dos estoques de pesca é a aqüicultura, as fazendas marinhas. São hoje o setor da indústria alimentícia que mais cresce no mundo. Bem manejadas, as fazendas marinhas podem até aliviar a pressão sobre o oceano. Delas já saem 30% dos frutos do mar que comemos – salmão, truta, bacalhau, camarão.”

Esta é a solução que o texto dá para a pesca predativa. Mas isto realmente mudará alguma coisa? A conclusão que tiro desta solução é que a vida marinha vai sempre ser escrava da vontade humana. Para a nossa cultura ocidental em geral a maior aceitação é que devemos preservar a vida e para isso a fazenda marinha seria um bom subsídio, pois seria um recurso “renovável” de seres vivos. Enquanto aos japoneses que fazem a pesca por que realmente precisam fazê-la para SOBREVIVER, será que na cultura deles a pesca é vista como uma má coisa ou uma solução para a fome, será que na cultura deles o importante é preservar? Então com estas dúvidas levantadas, o texto realmente não poderia passar a imagem do pescador japonês como um vilão, pois muitas vezes, ele depende do emprego de pescador para sustento.

Guilherme Burg Mayer

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