Este espaço é destinado às construções em Biologia e Educação dos estudantes de Ciências Biológicas da UFSC

terça-feira, 16 de agosto de 2022

O florescer de novas ideias que brota com o desnaturalizar conceitos

  Desde criança é comum que nos sejam entregues conceitos prontos e, com uma curiosidade provinda da infância, é comum enchermos os outros de perguntas do porquê o mundo funciona dessa forma; no entanto parece que muitas vezes, quando crescemos, perdemos parte dessa curiosidade e não refletimos mais sobre conceitos nos apresentados e passamos a naturalizar tudo o que vemos pela frente. Há casos de assédio no lugar onde trabalha? Homens são assim mesmo ou se mulheres recebem menos, qual o problema? Houve um caso de racismo próximo a você, mas antes não era pior? Casais não-heterossexuais escondendo a sua relação? Você sabe que na época do seu avô não existiam essas “coisas”. Por vezes, levamos tudo no automático e nos esquecemos de questionar o que se sucede ao nosso redor e quebrar esses conceitos que parecem tão comum podem ser até chocantes; porém se é chocante para uma pessoa perceber o quão erradas são essas frases, imagina para quem sente todas essas adagas na própria pele.      Em uma tentativa de resgatar a curiosidade de como o mundo e a sociedade funciona, os alunos do semestre 2021.2 foram incitados a questionarem o que lhe era comum e a produzirem a sua visão sobre o que aprenderam.      Invocando belas palavras através da poesia, os discentes Sabrina Carvalho Suominsky, Polliana Luisa Boff, Natália Lourenço de Oliveira e Vicenzo Albiero Dallazen trataram sobre a beleza e a diversidade presente em cada ser humano. Usando conceitos que falam sobre a estrutura básica e comum de todas as pessoas da nossa sociedade, como átomos, elétrons e (por mais mágico e distante possa parecer para alguns) de poeira estelar. Por mais que às vezes possamos parecer tão diferentes (e de fato somos), ainda é válido lembrar que não há superioridade em qualquer indivíduo já que todos somos um amontoados de células. 

Os estudantes Jonathan Vós, Larissa Schmidt e Lucas Costa trouxeram através de uma linha do tempo o questionamento sobre como os conhecimentos científicos são mutáveis. Conceitos que antes eram consolidados e tidos como verdade absoluta passaram a se tornar uma ideia inconcebível através do passar do tempo. Se antes era tão certeiro que a terra era plana, hoje mais se assemelha a uma chacota para alguns; no entanto, o que será dito no futuro como mentiroso, o que hoje temos como verdade tão bem estabelecida? 




As alunas Isadora Coppio da Costa , Monique Moraes Cadini e Thais Helena Machado trazem a beleza da diversidade em forma de poema. Críticas ao nosso cruel modo de vida fazem parte do coração do texto em que retrata a nossa sociedade em busca de uma perfeição inalcançável e inexistente que exclui as próprias pessoas e faz elas se sentirem desconectadas no próprio corpo. O seu poema também possui como alvo os livros didáticos de biologia, onde esses que deveriam ser aqueles que possuíssem mais representatividade e diversidade em seu conteúdo, não passa de mais um material que retrata o corpo humano como algo padronizado, onde há um conceito de perfeição, como pele branca, olhos e cabelos claros, corpo esguio. Logo na biologia, onde a diversidade faz parte da evolução e a imperfeição abre novos caminhos, novas linhagens e novas espécies. Se tudo fosse padronizado e igual desde o começo da vida, talvez hoje não passaríamos de seres procariontes. Também foi produzido um vídeo recitando o texto, que pode ser acessado em: https://youtu.be/W7sacrEzw94.

Em seu artefato, Livia retrata uma questão que sempre lhe perdurou: como encarar o argumento genético utilizado para sustentar questões transfóbicas? Não é recente que a ciência vem sendo utilizada como ferramenta para inferiorizar outros seres humanos e conceitos que nos parecem tão distantes e brutais como a eugenia, ainda são perigosamente insistentes em nossa sociedade. Utilizar o sistema sexual heterogamético de XY tem feito graça na língua de pessoas transfóbicas que acham plausível deslegitimar outras formas de vivência e se gabam de “conhecimento científico”; contudo a ciência é completamente mutável, afinal ninguém é conhecedor pleno da natureza e de como o mundo funciona, por isso estamos sempre aprendendo. Incomodada com essa atitude transfóbica, Livia trás argumentos que demonstram como a diversidade é biológica, tal como as outras meninas fizeram anteriormente. 



Com tantos questionamentos acerca do modo de vida que possuímos atualmente, as alunas Camila Pedersen Zeilmann, Camila Souza Pedro, Elizabeth Eny Gusmão Tarouco e Sofia Assunção Castro trazem uma colagem com diversos temas que foram abordados durante o semestre e, apesar de não existirem respostas concretas e consolidadas, as questões para desnaturalização foram levantadas: porque só há formas de se pensar em respostas quando as perguntas forem feitas primeiro. No primeiro quadrante, há a representação de Alexandra Elbakyan, a criadora do Sci-Hub, e as inquirições sobre o porquê a ciência é tão privada e destinada a certos grupos de pessoas, monetizando informações que devem ser cientes a todos que quiserem saber sobre. No outro quadrante, há o  cacique Raoni Metuktire, levantando as bandeiras do conhecimento de povos indígenas que por muitos é ignorada ou usurpada. A seguir, o texto retratado pelas estudantes sobre o próprio trabalho: “De Alexandra Elbakyan no Cazaquistão até cacique Raoni Metuktire no Brasil, a ciência causa impacto e a verdade desconhece fronteiras. A academia por outro lado inventa e  impõe padrões, barreiras, limites e preconceitos. Derrubando a pseudo-perfeição arcaica de um homem vitruviano, abrimos alas para a as possibilidades da diversidade.

Como disse Oyèrónké Oyewùmí, em seu estudo ‘Visualizando o corpo: Teorias Ocidentais e Sujeitos Africanos’: “A lógica cultural das categorias sociais ocidentais é baseada em  uma  ideologia  do  determinismo  biológico:  a  concepção  de  que  a  biologia  provê  a racionalidade  para  a  organização  do  mundo  social.  Assim,  essa  lógica  cultural  é  na verdade  uma  “bio-lógica”.  Categorias  sociais  como  “mulher”  são  baseadas  no  corpo  e são  construídas  em  relação  e  em  oposição  a  outra  categoria:  “homem”;  a  presença  ou ausência de certos órgãos determina [nesse caso] a posição social”.



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